terrorismo náutico
( ou como um autor pode ser atacado pela sua não própria personagem e ser salvo por um agente especial que usa barbatanas amarelas)
embora cheia de medo lá resolvi ir até ao reduto joanense , vulgarmente denominado ilha da madeira ,apenas para tentar embarcar no mui afamado queen mary e procurar a misteriosamente desaparecida nébia .
dobrei cuidadosamente o cão witt e despejei-o dentro de uma johny walker , que é sempre um óptimo local para transportar entidades caninas.arrumei diligentemente o meu arsenal de tesouras escolares de cor vermelha e parti na hora do ocaso .
telefono à nebia , talvez ela já tenha conseguido entrar em contacto com o escritor mistério , mas nada , o telefone tocou , tocou , tocou ...tocou tanto que até ficou com faringite.muito grave esta faringite telefónica .
e lá chego eu a tão graciosamente florida ilha .caminho devagar , com algum receio .todos sabemos o que acontecem a antigos vermelhuscos como moi- meme ao aventurarem-se por aquelas bandas : tudo transformado em flor do natal de plástico .
tenho sede , penso .encontro um simpático banco e lá deixo os meus ossos a repousar enquanto trago dois goles do meu johny walker .o cão witt continua adormecido no fundo da garrafa .a sua última dembulação especulativa deixou-o esgotado .afinal ,quem mais se aventuraria a intentar uma classificação exaustiva da gestualidade dos homens portugueses atrás dos balcões?
sede saciada , olho em volta e eis que avisto essa maravilha da civilização , sim , ele mesmo , o queen mary .lépida e fagueira lá vou eu .o céu está risonho e sente-se nas pessoas uma euforia agradável .
o rick disse-me para avançar destemidamente .o único perigo daquelas bandas era um homem muito gordo que se costumava despir e pôr umas roupas muito brilhantes ,passeando-se nesses trajes entre a populaça incauta .
( muito simpático o meu amigo rick .ele usa barbatanas amarelas para tocar piano e em casa dele há pigmeus que declamam shakespeare .mas essa é outra história .)
finalmente , estou eu frente ao barco .eu e aquele colosso .
onde será a campainha? -pergunto-me mentalmente .e enquanto sigo na minha inquirição , avisto muito ao longe alguém que me é estranhamente familiar .mas quem ?
( a narrativa pausa alguns segundos , para o leitor levantar sugestões relativamente à pessoa que se aproxima , ok? )
fim de pausa
sinto-me enjoada .não pode ser .é ele mesmo .jojó , o poeta rocher .mas ...mas ...que é isto ?
ele dirige-se a mim:
-chama-se ale?
-sim ,sou eu - consigo muito a custo balbuciar .
- então conheço eu a minha autora ...como é que pode? como pode inventar-me de forma tão miserável? dar-me uma madame horrível assim e inculta , com um cozinheiro pretensamente atlético de companheiro espiritual?
-calma , jojó ,no fundo eu gosto de si ...e há a marisol que também o aprecia tanto .
-é mentira .ninguém gosta de mim , só a heidi .
-calma , jojó , ´não se esqueça que tem a sua poesia .
-não .não .não posso mais , vou matar a minha autora .
-jojó , não diga disparates .você não é mais que uma personagenzeca .não tem vida própria , não pode nada que eu não queira .
( pausa : neste momento ,em especial clarividência detenho-me a pensar : como posso eu estar a falar com a minha personagem ? como pode ela estar a querer matar -me?)
mas prossigo friamente, lembrando-me do que faria o meu amigo rick numa circunstância idêntica .ah , claro , o johny walker .
-não quer beber nada jojó?
e estendo para jojó a minha garrafa de johny walker , onde tinha embrulhado o cão witt .
o nosso simpático canino semiológico há muito se apercebera do perigo , mas permanecera em silêncio , esperando a melhor altura de actuar .
assim , quando jojó aproxima o gargalo da garrafa dos seus lábios, o cão witt actua finalmente .
dissertando letalmente sobre a contemporaneidade poética ,construindo um edifício argumentantivo inabalável relativamente ao discurso poético jojoziano e suas circunstâncias pós -moderninhas , o cão witt consegue aniquilar a nossa personagem e gritar -me :
- foge , foge enquanto ele está a tentar uma décima ao macdonalds!
eu corria , corria , o queen mary ficava mais longe , mais longe , mas eu ouvia ainda a voz de jojó .as minhas forças começavam a esgotar-se quando surge do céu o meu amigo rick em barbatanas amarelas e gabardine preta salvando-me da ameaça jojó .
já suspirosa e salva nos braços de rick , pergunto :
- como soubeste que eu corria perigo?
-hummm , tossicou ele , na verdade é uma longa história ...pertenço , juntamente com a bolinha semiótica ,a uma organização não governamental que protege e acolhe autores em risco .
um dos maiores perigos são os ataques das personagens .há muito que eu achava esse tipo , o jojó , altamente suspeito .foi só uma questão de permanecer atento .
-mas , como ? há autores atacados por suas próprias personagens?
-sim , é claro que há .o meu melhor caso foi quando salvei o flaubert da fúria assassina da madame bovary .mas isso fica para outro dia.agora ,por favor , tira-me as barbatanas amarelas ...
( ou como um autor pode ser atacado pela sua não própria personagem e ser salvo por um agente especial que usa barbatanas amarelas)
embora cheia de medo lá resolvi ir até ao reduto joanense , vulgarmente denominado ilha da madeira ,apenas para tentar embarcar no mui afamado queen mary e procurar a misteriosamente desaparecida nébia .
dobrei cuidadosamente o cão witt e despejei-o dentro de uma johny walker , que é sempre um óptimo local para transportar entidades caninas.arrumei diligentemente o meu arsenal de tesouras escolares de cor vermelha e parti na hora do ocaso .
telefono à nebia , talvez ela já tenha conseguido entrar em contacto com o escritor mistério , mas nada , o telefone tocou , tocou , tocou ...tocou tanto que até ficou com faringite.muito grave esta faringite telefónica .
e lá chego eu a tão graciosamente florida ilha .caminho devagar , com algum receio .todos sabemos o que acontecem a antigos vermelhuscos como moi- meme ao aventurarem-se por aquelas bandas : tudo transformado em flor do natal de plástico .
tenho sede , penso .encontro um simpático banco e lá deixo os meus ossos a repousar enquanto trago dois goles do meu johny walker .o cão witt continua adormecido no fundo da garrafa .a sua última dembulação especulativa deixou-o esgotado .afinal ,quem mais se aventuraria a intentar uma classificação exaustiva da gestualidade dos homens portugueses atrás dos balcões?
sede saciada , olho em volta e eis que avisto essa maravilha da civilização , sim , ele mesmo , o queen mary .lépida e fagueira lá vou eu .o céu está risonho e sente-se nas pessoas uma euforia agradável .
o rick disse-me para avançar destemidamente .o único perigo daquelas bandas era um homem muito gordo que se costumava despir e pôr umas roupas muito brilhantes ,passeando-se nesses trajes entre a populaça incauta .
( muito simpático o meu amigo rick .ele usa barbatanas amarelas para tocar piano e em casa dele há pigmeus que declamam shakespeare .mas essa é outra história .)
finalmente , estou eu frente ao barco .eu e aquele colosso .
onde será a campainha? -pergunto-me mentalmente .e enquanto sigo na minha inquirição , avisto muito ao longe alguém que me é estranhamente familiar .mas quem ?
( a narrativa pausa alguns segundos , para o leitor levantar sugestões relativamente à pessoa que se aproxima , ok? )
fim de pausa
sinto-me enjoada .não pode ser .é ele mesmo .jojó , o poeta rocher .mas ...mas ...que é isto ?
ele dirige-se a mim:
-chama-se ale?
-sim ,sou eu - consigo muito a custo balbuciar .
- então conheço eu a minha autora ...como é que pode? como pode inventar-me de forma tão miserável? dar-me uma madame horrível assim e inculta , com um cozinheiro pretensamente atlético de companheiro espiritual?
-calma , jojó ,no fundo eu gosto de si ...e há a marisol que também o aprecia tanto .
-é mentira .ninguém gosta de mim , só a heidi .
-calma , jojó , ´não se esqueça que tem a sua poesia .
-não .não .não posso mais , vou matar a minha autora .
-jojó , não diga disparates .você não é mais que uma personagenzeca .não tem vida própria , não pode nada que eu não queira .
( pausa : neste momento ,em especial clarividência detenho-me a pensar : como posso eu estar a falar com a minha personagem ? como pode ela estar a querer matar -me?)
mas prossigo friamente, lembrando-me do que faria o meu amigo rick numa circunstância idêntica .ah , claro , o johny walker .
-não quer beber nada jojó?
e estendo para jojó a minha garrafa de johny walker , onde tinha embrulhado o cão witt .
o nosso simpático canino semiológico há muito se apercebera do perigo , mas permanecera em silêncio , esperando a melhor altura de actuar .
assim , quando jojó aproxima o gargalo da garrafa dos seus lábios, o cão witt actua finalmente .
dissertando letalmente sobre a contemporaneidade poética ,construindo um edifício argumentantivo inabalável relativamente ao discurso poético jojoziano e suas circunstâncias pós -moderninhas , o cão witt consegue aniquilar a nossa personagem e gritar -me :
- foge , foge enquanto ele está a tentar uma décima ao macdonalds!
eu corria , corria , o queen mary ficava mais longe , mais longe , mas eu ouvia ainda a voz de jojó .as minhas forças começavam a esgotar-se quando surge do céu o meu amigo rick em barbatanas amarelas e gabardine preta salvando-me da ameaça jojó .
já suspirosa e salva nos braços de rick , pergunto :
- como soubeste que eu corria perigo?
-hummm , tossicou ele , na verdade é uma longa história ...pertenço , juntamente com a bolinha semiótica ,a uma organização não governamental que protege e acolhe autores em risco .
um dos maiores perigos são os ataques das personagens .há muito que eu achava esse tipo , o jojó , altamente suspeito .foi só uma questão de permanecer atento .
-mas , como ? há autores atacados por suas próprias personagens?
-sim , é claro que há .o meu melhor caso foi quando salvei o flaubert da fúria assassina da madame bovary .mas isso fica para outro dia.agora ,por favor , tira-me as barbatanas amarelas ...
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