sombras sobre sombras
esta é a carta discursiva e inexacta
que não te entregarei
e por isso a esqueço no pulmão aberto do papel.
esta noite aconteceu-me o pulsar de um animal ferido
atravessando a casa , mas façamos disso
pretexto para o que somos, eu e tu : um punhado de dores
e muita esperança.
que palavras dar ,amigo, às horas e aos dias emaranhando-se no peito ?
que palavras escolher entre o cansaço e o sublime
perseguido tijolo a tijolo ?
os ossos devoram o que de nós sobra
vai-se ao cinema e choramos com cenas logo esquecidas
e assim se vão acumulando inúteis metafísicas,
da catástrofe à catarse afinam-se três dedos no coração.
a nossa estranha labuta consiste na aproximação circular aos absurdos ,
a esses em que diariamente cremos porque nem tudo é medo
e sobretudo a todos os outros que sabemos serem mentira.
todos os dias percorremos a distância de um maior contentamento
e fica-nos algo de derrota
como uma chuva persistente .
mas não importa se nos restar um rosto para amar
logo pela manhã
e braços onde o silêncio cosa o céu aos olhos mais vazios .
o que não é repetição são olhos, são retinas, são pálpebras e pupilas cansando-se
das horas brevíssimas e das paisagens
onde deixou de caber a boca do espanto.
aos poucos
a dor começou a confundir-se com tudo que é visível.
há não muitos anos havia uma outra duração do mundo
outra incerteza das coisas,
o tempo em que todos os rostos voltavam .
nunca te disse ,
mas foi na descoberta da morte que o teu abraço me salvou .
hoje os passos deitam sombras no que em nós persiste
e talvez sejam
sombras sobre sombras
a nossa mais palpável matéria .
seguimos ou permanecemos , tanto faz ,
não há fugas sem deuses nem orações.
atrevo-me apenas a ciciar estas palavras
para completares no teu peito :
adormece devagar ,
muito devagar
e esquece comigo
os nomes que farão a nossa morte.
esta é a carta discursiva e inexacta
que não te entregarei
e por isso a esqueço no pulmão aberto do papel.
esta noite aconteceu-me o pulsar de um animal ferido
atravessando a casa , mas façamos disso
pretexto para o que somos, eu e tu : um punhado de dores
e muita esperança.
que palavras dar ,amigo, às horas e aos dias emaranhando-se no peito ?
que palavras escolher entre o cansaço e o sublime
perseguido tijolo a tijolo ?
os ossos devoram o que de nós sobra
vai-se ao cinema e choramos com cenas logo esquecidas
e assim se vão acumulando inúteis metafísicas,
da catástrofe à catarse afinam-se três dedos no coração.
a nossa estranha labuta consiste na aproximação circular aos absurdos ,
a esses em que diariamente cremos porque nem tudo é medo
e sobretudo a todos os outros que sabemos serem mentira.
todos os dias percorremos a distância de um maior contentamento
e fica-nos algo de derrota
como uma chuva persistente .
mas não importa se nos restar um rosto para amar
logo pela manhã
e braços onde o silêncio cosa o céu aos olhos mais vazios .
o que não é repetição são olhos, são retinas, são pálpebras e pupilas cansando-se
das horas brevíssimas e das paisagens
onde deixou de caber a boca do espanto.
aos poucos
a dor começou a confundir-se com tudo que é visível.
há não muitos anos havia uma outra duração do mundo
outra incerteza das coisas,
o tempo em que todos os rostos voltavam .
nunca te disse ,
mas foi na descoberta da morte que o teu abraço me salvou .
hoje os passos deitam sombras no que em nós persiste
e talvez sejam
sombras sobre sombras
a nossa mais palpável matéria .
seguimos ou permanecemos , tanto faz ,
não há fugas sem deuses nem orações.
atrevo-me apenas a ciciar estas palavras
para completares no teu peito :
adormece devagar ,
muito devagar
e esquece comigo
os nomes que farão a nossa morte.
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