<body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar.g?targetBlogID\x3d5890420\x26blogName\x3dtorneiras+de+freud\x26publishMode\x3dPUBLISH_MODE_BLOGSPOT\x26navbarType\x3dBLUE\x26layoutType\x3dCLASSIC\x26searchRoot\x3dhttps://torneirasdefreud.blogspot.com/search\x26blogLocale\x3dpt_PT\x26v\x3d2\x26homepageUrl\x3dhttp://torneirasdefreud.blogspot.com/\x26vt\x3d7779548731287678461', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>

4/04/2004

sombras sobre sombras

esta é a carta discursiva e inexacta
que não te entregarei
e por isso a esqueço no pulmão aberto do papel.

esta noite aconteceu-me o pulsar de um animal ferido
atravessando a casa , mas façamos disso
pretexto para o que somos, eu e tu : um punhado de dores
e muita esperança.
que palavras dar ,amigo, às horas e aos dias emaranhando-se no peito ?
que palavras escolher entre o cansaço e o sublime
perseguido tijolo a tijolo ?
os ossos devoram o que de nós sobra
vai-se ao cinema e choramos com cenas logo esquecidas
e assim se vão acumulando inúteis metafísicas,
da catástrofe à catarse afinam-se três dedos no coração.
a nossa estranha labuta consiste na aproximação circular aos absurdos ,
a esses em que diariamente cremos porque nem tudo é medo
e sobretudo a todos os outros que sabemos serem mentira.

todos os dias percorremos a distância de um maior contentamento
e fica-nos algo de derrota
como uma chuva persistente .
mas não importa se nos restar um rosto para amar
logo pela manhã
e braços onde o silêncio cosa o céu aos olhos mais vazios .

o que não é repetição são olhos, são retinas, são pálpebras e pupilas cansando-se
das horas brevíssimas e das paisagens
onde deixou de caber a boca do espanto.
aos poucos
a dor começou a confundir-se com tudo que é visível.

há não muitos anos havia uma outra duração do mundo
outra incerteza das coisas,
o tempo em que todos os rostos voltavam .

nunca te disse ,
mas foi na descoberta da morte que o teu abraço me salvou .

hoje os passos deitam sombras no que em nós persiste
e talvez sejam
sombras sobre sombras
a nossa mais palpável matéria .
seguimos ou permanecemos , tanto faz ,
não há fugas sem deuses nem orações.
atrevo-me apenas a ciciar estas palavras
para completares no teu peito :
adormece devagar ,
muito devagar
e esquece comigo
os nomes que farão a nossa morte.