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9/06/2004

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sentei -me como diziam todas as regras compêndios de boas maneiras.e sorri como me tinha ensinado a tia adélia: não sorrias explicitamente ,margarida,jamais sorrias explicitamente.e logo acrescentava a avó luísa :aliás ,menina, nunca faças nada explicitamente.
então eu fiz tudo como se ainda ali estivessem aquelas duas hirtas mulheres instruindo-me.a saia composta , as luvas retiradas delicadamente .uma encenação perfeita.palmas invisíveis no meu peito , quase estremeço , quase , mas ...ah , a compostura.foi por um triz , sinto a cara mais quente , mas penso na tia adelaide e na avó luísa, as duas mortas,tão compostamente mortas...as mãos em disposição seráfica , os anéis com um brilho honesto e cirscunspecto e até um certo blush nas faces.o blush , lembro de entrar no velório e de reparar nas caras contristadas de quem lá estava ao me verem ali, sapatos de verniz aprumadamente preto.
alguns temiam o meu choque quando as visse , mas lembro -me apenas do blush nas faces.um blush explícito , mais carregado do que qualquer hora ousada na vida daquelas duas.
não sei porque lembro disto agora,não gosto de esperas , fazem-me sempre pensar em coisas desagradáveis .explicitamente desagradáveis.
o doutor aparecerá dentro em pouco , creio .esta recepcionista não pára de me olhar e isso confunde-me.não tenho nada que mereça ser olhado , apontantado , lembrado .só talvez a minha extrema e grande ausência de explicitude.
as minhas unhas estão bonitas,poderei pousá-las na secretária do doutor sem embaraço .eu podia suspirar neste momento , mas não quero que a recepcionista olhe ainda mais para mim, mas ....ahhhh que vontade de suspirar eu sinto. o doutor casou-se faz em abril três anos e foi uma linda cerimónia . usei um vestido circunspecto mas elegante,rosa chá, e o colar de pérolas da avó luísa.
a recepcionista está a ler uma revista.ela é demasiado explícita .mas tirou os olhos de cima de mim e agora sou eu quem a pode olhar.não o farei ,contudo .olho as minhas unhas , como estão bonitas ...talvez falte um anel ,devia ter posto um anel na mão esquerda.
a seguir sou eu a entrar ...detesto estas esperas.uma vez não me foram buscar à escola e fiquei sozinha com a última das empregadas que era gorda como não se pode ser gordo e me deu um copo de leite abarrotado de açucar que me deixou enjoada.
até hoje quando vejo pessoas gordas fico enjoada e com sabor de leite muito açucarado na boca.ser-se gordo é excessivo.
respiro o mais fundo que posso e quase suspiro .queria suspirar.ou talvez fumar.acho que eu poderia ser elegante , fumando.
a moça levantou-se da cadeira , não .não pode ser ela vem para aqui ...o que quer ela comigo?eu não tenho nada para lhe dizer e recuso -me falar da espera , do tempo , da política ou de bordados .viro-lhe cara, é isso , vou virar-lhe a cara.
as horas...pergunta-me as horas e agradece com um sorriso .as pessoas gentis irritam-me porque temos de ser gentis com elas .não quero contratualidades com estranhos.
aaaa , doutor , tanta demora assim...não entendo ...
não gosto de esperas.fazem pensar sem ter controlo sobre o que penso e acho isso muito desagradável.quase que fico excessiva.sabe doutor? tenho muito medo de ficar excessiva ...é preciso manter um distanciamento seguro , cultivar uma frieza dinâmica nas relações,não acha doutor?
doutor , diga qualquer coisa , interrompa-me , peça um esclarecimento .penso demasiado , corro o risco de começar a pensar demasiado .não quero âmagos , não quero aproximações.quero viver em mim tão aparentemente como as maõs que arranjei para vir aqui e dispô-las sobre a mesa.
sim doutor?sim?pode interromper?sim?