-sim, quem é?
-sou eu.
-eu?
-não, na verdade é o jojó.
-jojó!ainda existe, caro jojó?
-sim, parece que sim...diga-me...posso perguntar-lhe uma coisinha?
-diga, jojó, diga.
-ainda me vai usar?
-bem, jojó, francamente não sei. mas não se apoquente, as personagens esquecidas têm até uma boa vida...o que tem feito?
-li la recherche inteirinha,converti-me ao budismo e tirei um curso de puericultura por correspondência.
-ah, muito bem jojó. a sua vida vai bem melhor que a minha...este real dá-nos cabo da paciência. nem sabe como eu preferia ser apenas um produto da imaginação de alguém...
-sim...mas sabe? o que eu queria mesmo era voltar em grande ao mundo literário. sinto-me solitário, acabrunhado. o vavá partiu , lola a mulher bolero, ficou na secção latino-americana de literatura moderna...aqui, na secção de poesia, está-se muito mal...quase que não aparece ninguém...
-humm, entendo jojó. posso pensar numa transferência...tem preferências?
-sim!o que mais gostava era de ir para a secção esotérica!
-esoterismo, jojó?tem a certeza?olhe que não vai ter ninguém para conversar consigo sobre a
recherche por aquelas bandas.
-eu sei, autora,mas preciso de estudar as teorias da reencarnação.
-então por que razão, jojó?
-quero reencarnar como mr. darcy.
-não me diga que lhe deu agora para os
happy endings, mas que hilariante, jojó.
-não se ria, por favor, já é suficientemente humilhante ser uma personagem abandonada sem ficção, sem trama, sem narrador algum. se pelo menos eu fosse uma personagem de cinema, mas não. sou uma personagem literária...
- pronto , jojó, não é preciso chorar. que ingratidão comigo.está bem, jojó, vou ver o que se pode arranjar.
-obrigada, querida autora, obrigada.
fim de cena. jojó sai, fazendo um número de sapateado.